quinta-feira, 16 de maio de 2013



DESABAFO EM MAIS UM DIA DE DOR 


QUINTA-FEIRA, 16 DE MAIO DE 2013
Hoje, desde que acordei, a música da Eric Clapton, “Tears in Heaven”, ou "Lágrimas no Céu" em português, que ele compôs em homenagem ao filho que faleceu aos 4 anos, vítima de uma queda do 53º andar de um prédio, não sai da minha cabeça, penso muito na letra dessa música. Fico pensando em cada trecho dessa música e pensando como ela retrata tão bem a dor e a dúvida que todos os pais tem após a perda de um filho. Quero ser forte, aguentar firme e procurar meu caminho dia e noite (como Eric também procurou e retratou nos trechos de sua música), apesar de ser tão difícil visualizar esse caminho e ser extremamente difícil ser forte e aguentar tanta dor.
A dúvida fica, sim (a música começa com essa dúvida), se vamos nos encontrar de novo, se eles me reconhecerão, saberão meu nome, mas quero acreditar e vou acreditar nisso: que vou reencontrar meus filhinhos um dia, lá no céu, e lá não chorarei mais, porque no céu não existe lágrimas, só alegrias e eles estão lá, felizes e esperando por mim. E Lá seremos felizes para sempre, como em um conto infantil, estaremos todos juntos e não nos separaremos mais, nunca mais.
Hoje também tentei voltar a cuidar da minha casa, mas isso só fez crescer uma raiva enorme dentro de mim. Eu lavei os pratos, mas Paulo Gustavo não estava aqui, para me ajudar e insistir em enxugar as colheres, quando ele não estava assistindo e eu ia lavar os pratos, ele dizia: mamãe eu vou ajudar... eu quero te ajudar. Subia numa cadeira, pegava o pano de prato e eu dava para ele as colheres, tampas ou vasilhas pequenas de plásticos, o que eu sabia que não iria machucá-lo. E lá estava ele se sentido útil e tão capaz, ajudando a sua mãe. Olhei para a cadeira próxima a mesa onde ele ficava e não, ele não estava lá. Continuei lavando aqueles pratos, mas meu coração doía, doía muito. Como suportar tudo isso? Eu sempre gostei de cuidar das minhas coisas, da minha casa, mas agora, tudo se torna insuportável, tudo é tão pesado, tão triste. Quando acho um brinquedo, um lápis de cor espalhado pela casa, suas bolas, meu coração para um pouco e pergunta: cadê ele? Cadê Paulo Gustavo para brincar com seus brinquedos, pintar com seus lápis de cor e chutar as suas bolas, com tanto gostava? E aí ele dói, dói de raiva, de tristeza, de tanta revolta por não entender essa situação tão surreal, tão difícil de ser encarada e aceita.
Algumas pessoas me perguntam se estou bem. Ou até afirmam, ao perguntar, sem me dar chances de responder: Paula tudo bem.? Penso: Como está tudo bem? Meu 2º e único filho morreu, como eu posso está bem? Eu estou péssima, derrotada e me sinto muito mal. Mas o fato de não está enterrada, nem internada num hospício, as fazem pensar que estou bem? Não, não estou bem, não estou enterrada, mas me sinto morta, sem forças para seguir, para voltar a fazer coisas que eu gostava de fazer, pensar no meu trabalho, nada disso importa para mim. Tudo perde o sentido, o valor, a alegria. E como conseguir sorrir, ser feliz, voltar a viver sem meu filho perto de mim? Sem ele me ajudando, eu me orgulhava tanto de ver meu pequenininho, me ajudando a pegar um brinco embaixo do guarda-roupa ou da cama quando caía, pegando uma colher para mim na gaveta do armário, quando eu sentava à mesa e precisava de mais uma, ou até indo no meu guarda- roupa para pegar meu lençol quando estava deitada no sofá e sentia frio (às vezes, ele derrubava todos os outros lençóis que estavam lá e eu tinha que levantar para guardar-los). Mas ficava feliz com sua atitude tão gentil de ajudar a sua mãe e isso o deixava tão contente, quando eu o agradecia e dizia: que bom meu filhinho, já me ajuda, obrigada! Olhar esse lençol hoje me emociona tanto, ele deitava no sofá comigo, mas era muito calorento, e não queria se enrolar, mas quando eu falava que estava com frio, ele perguntava se eu queria o lençol e ia buscar, outras vezes eu que pedia para ele pegar. E ele ia, já sabia qual era o meu e parecia que queria me confortar com aquele lençol, fazer passar meu frio. E quando ele sentia frio ou queria um lençol para brincar e enrolar seus filhinhos (os bonequinhos Patati – Patatá) era uma briga, ele só queria o meu lençol. E eu dizia não pode, pegue outro, e ele respondia que queria aquele, era do meu que ele gostava, às vezes eu até me irritava, sem querer liberar o  meu lençol e Erinaldo dizia deixa, ele não vai sujar, e se sujar pega outro. Então eu liberava. Olho hoje para esse lençol e não consigo me enrolar com ele. Que falta me faz Paulo Gustavo aqui querendo brincar com o meu lençol e até sujá-lo se ele quisesse. Eu não o tenho mais, por isso até o lençol que eu fazia tanta questão de me enrolar, já não é mais o mesmo. Eu não sou mais a mesma, minha casa não é mais a mesma, nem meu lençol é mais o mesmo (eu não gosto mais dele, nem sei que sentimento eu tenho), só não o quero mais e nem deixo outra pessoa se enrolar com ele, porque ele era meu e de Paulo Gustavo.
Meus dias não estão sendo fáceis, desde a lembrança do lençol que ele gostava, a todos os todos os cantos da nossa casa e projetos pensados juntos: Comemorar nossos aniversários, ter uma menininha para cuidarmos juntos. E tantas outras coisas que ele dizia “é para nós três”, se referindo a ele, eu e seu pai. Hoje não existe mais “nós três”,  somos dois: eu e Erinaldo, para enfrentarmos tamanha dor e ausência do nosso bebezinho grande, como ele gostava que o chamasse, pois quando o chamava de “meu bebezinho”, ele argumentava: “não sou bebezinho não, mãe, já sou grande”. Eu continuava: ok, você já é grande, mas é meu bebezinho, então é meu bebezinho grande. E assim ele aceitava. Dizem-me para não brigar com Deus, mas ainda brigo muito com ELE, por não entender, nem aceitar que nós tinhamos que continuar nossa missão sem nosso bebezinho lindo e amável: PAULO GUSTAVO.

2 comentários:

  1. Essas lembranças vai ficar sempre com vcs.
    O bom delas , é que seu filho era um anjinho e só ficou momentos felizes... lembranças de felicidade.

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