quinta-feira, 30 de maio de 2013



QUEM AMA A DEUS, NÃO PODE SE SENTIR MAIOR QUE OS OUTROS


Hoje, pela primeira vez depois do acidente que tirou meu filho de mim, vim de Aracaju para Lagoa da Volta, passando pelo mesmo percurso que fizemos naquele dia maldito. Foi horrível. Dei graças a Deus por chegar em casa bem, mas sofri tanto, imaginando e questionando por que naquele dia deu tudo errado? Não conseguimos chegar em casa com nosso filho. Isso é um horror!

No percurso, vi muitos caminhões passando por nós, e li algumas frases em seus para-choques, como: "Sem Deus, sem chances", "Deus é mais", "O bom é Deus", etc., outros com nomes, acho que dos filhos, não sei. Mas me surpreendem essas frases, principalmente sobre Deus. Como acham que Deus é mais, que acreditam em Deus, mas agem de forma contrária aos ensinamentos de Deus? Pois ao não respeitar e amar o próximo e sair por aí matando pessoas, usando o caminhão como arma poderosa, na verdade querem ser mais que Deus.

 

Antes até gostava de ler esses para-choques e acreditava que os caminhoneiros eram pessoas de fé e trabalho árduo. Agora, penso diferente. Não quero aqui generalizar, sei que no meio do todo, existe sim, homens bons. 

Recebi um comentário de um anônimo, demonstrando isso, que seu irmão era caminhoneiro e morreu pela irresponsabilidade de outro. Vejam:

"Nossa, eu só posso pedir a Deus pra acalentar vossos corações, sei o qto é dificil, estou com um nó na garganta. Eu também perdi meu irmão querido, no dia 26/03/13. Ele era caminhoneiro e estava vindo de São Paulo, e em lugar proíbido outro caminhoneiro estava ultrapassando e acertou ele de cheio. Pra se ter ideia de como foi terrível o caixão estava lacrado. O meu lindo de 29 anos. Menino querido, responsável um anjo. Saiu pra trabalhar e um maldito irresponsável nos tirou ele. Nós tentamos nos levantar mas tá difícil a sua falta.E pra piorar fazia um mês q minha cunhada tinha perdido a mãe de um AVC (23/02/13) depois veio a tragédia do meu irmão e agora no dia (04/05/13) ela perdeu o pai também num acidente. Nossas vidas virou em morte. Temos q ser forte pra dar o consolo pra ela. Mas não tá fácil. Tenho vontade de chorar, chorar e chorar e vem pessoas falando q nao podemos, pq senão ele não descansa. Ai como é triste. Sei q tem mtas pessoas sofrendo, mas a dor é mto grande. Só Deus pra ter misericórdia de nós. Fiquem com Deus. Amém"

Fonte:
http://www.espacoangelical.blogspot.com.br/2013/05/depoimento-da-mae-paula-sobre-partida.html


Mas as pesquisas me assustam. Vi ontem no jornal que dos acidentes de trânsito 90% tem envolvimento de caminhoneiros. Por quê? Não está na hora dos órgãos competentes averiguarem isso e começar a fazer algo para mudar essa situação?


Quer dizer, averiguar nem precisa, porque as pesquisas já mostram a realidade: O que faltam são ações para evitar que isso aconteça. Aprovar e aplicar leis mais rígidas e fazer os culpados pagar por seus crimes, senão continuam a cometê-los. Precisamos que homicídios de trânsito sejam julgados pelo código penal, e dependendo de como sejam, como crimes dolosos, e não pelo código de trânsito, que tem penas muito leves.

Não podemos ficar de braços cruzados e vendo famílias sendo destruídas. 

VAMOS COBRAR QUE A JUSTIÇA SEJA FEITA!

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Se nossa vida fosse fácil como em uma novela...

Essa semana, ao iniciar a nova novela das 9, da rede globo, essa frase ronda a minha cabeça. Desde que Paulo Gustavo se foi, era muito difícil assistir à novela das 9: Salve Jorge!, pela música de abertura (no dia do acidente ouvimos muito ela, ele me fez repetir 4 vezes a música). Ela me faz lembrar a sua alegria naquele dia (estava sendo uma viagem muito tranquila, alegre parque íamos para casa). Até que apareceu aquele maldito caminhão vermelho. 

Outra música da novela da qual eu fugia era a de Roberto Carlos "Esse cara sou eu". Paulo Gustavo gostava de cantar essa música, cantou na viagem, e no trecho: esse cara sou eu, apontava o dedinho em sua direção. Ok. não via a hora da novela terminar e não precisar mais eu ou Erinaldo ficar segurando o controle remoto para no momento da abertura mudar o canal e não ouvir a música. A novela terminou. Esta semana começou "Amor à vida". Esses primeiros capítulos tem sido fortes para assistirmos. A história começa falando de uma mulher que perde sua filha (roubada) e de um homem que perde sua esposa de parto e seu filho. O sofrimento dele é enorme, mas de uma hora para outra é confortado com a alegria de achar a menina daquela mulher, numa caçamba de lixo. aí o sentido da sua vida volta, como num estalar de dedos. E a gente assiste a essas cenas, mas elas mexem tanto conosco, porque desejávamos que nossa vida fosse assim, como uma novela: a dor fácil de ser confortada e tudo muito simples de se resolver, mas não é assim. Na vida real é muito diferente, a dor não é confortada tão facilmente assim, pior, no dia do trágico acontecido, já aparecer a solução para tudo. Uma menina, que não era a dele substituiu o outro filho, parece até que o personagem queria uma filho a qualquer custo, não importava se fosse a dele ou não... 

Não é assim tão fácil, e sei porque eu e Erinaldo estamos enfrentando essa dor  (a dor da ausência do nosso amado filhinho) e não passa. Estamos tentando andar, viver com ela dia a dia.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Ontem, dia 21 de maio, recebemos via Facebook uma mensagem da nossa amiga Sanádia e fazemos questão de deixar aqui registrado.

PALAVRAS DA NOSSA AMIGA SANÁDIA

Conheci Paula e Erinaldo em Lagoa da Volta e juntos partilhamos sonhos e vida nas ações do grupo de jovens e ao testemunhar o amor deles dois durante essa temporada que vivi por lá. Ao longo dos anos também acompanhei muitas coisas junto com eles: os preparativos para o noivado, a compra da alianças, da televisão, a prova do vestido, a preparação para a liturgia do casamento, enfim, tantas coisas sonhadas e construídas... Mais tarde voltei para a casa dos meus pais em Aracaju e mesmo assim mantivemos o contato. Um dia quando os visitei encontrei Paulinha grávida, era o Gabriel que estava na barriga dela e a felicidade era tamanha por essa espera. Recordo-me do dia que Erinaldo telefonou para dizer que o bebê havia nascido e eu toda feliz o parabenizei, mas em seguida ele me dizia que a criança talvez poderia se submeter a uma cirurgia porque estava c um probleminha no coração. Depois fiquei sabendo que Gabriel não resistiu à cirurgia e veio a falecer. Depois de algum tempo, em outra visita a casa deles, Paula estava grávida novamente e à espera de mais um bebê: desta vez era Paulo Gustavo que vinha ao mundo e mesmo por poucas vezes, conseguia perceber tamanho zelo e cuidado durante o Pré natal e na espera do pequeno. E Paulo Gustavo veio ao mundo, cheio de formosura, como uma luz para os dois e para completar o amor que Paula e Erinaldo construiram ao longo desses anos. Lembro-me de três momentos que para mim ficaram na memória: o batizado do Gustavo, quando Diana e eu fomos a Lagoa da Volta para juntos celebrarmos desta alegria com eles e ao mesmo tempo o seu aniversário de um ano de idade. Quanta alegria! lembro-me que nesse dia comi tanto, bebi tanto da festa do pequeno e foi muito legal; outro momento que me recordo foi quando Paula e Erinaldo levaram Diana lá em casa e estavam com o pequeno Gustavo no braço, tão lindo! mamãe lá de cima da escada ficou admirada com tamanha beleza do menino. Uma outra cena que para mim foi forte aconteceu uma manhã que eu dormia na casa deles e Paulo Gustavo subiu num tamborete ou foi cadeira, não lembro desse detalhe e foi pegar da mão de sua mãe a mamadeira para comer. Tão pequeno e tão espertinho com tão pouca idade. Quando recebi a notícia da tragédia, fiquei sem acreditar, nesse dia me senti tão presa, amarrada, pois queria estar junto a Paula e Erinaldo e justamente nesse dia estava em Brasilia, tinha chegado após dois dias na estrada com a delegação de Sergipe que estava indo ao Congresso da CONTAG. Após a notícia não tinha condições de ficar na abertura de tanto chorar e por imaginar tamanha dor dos meus amigos que precisavam de afago e de um grande abraço de apoio e conforto. A única coisa que pude fazer era me colocar em oração e pedir a Deus que iluminasse a vida dos dois e desse força para eles continuarem a viver, pois desde aquela hora eu já estava totalmente em comunhão. Nunca senti tamanho sentimento, é como se fosse alguém da minha família. Foi uma coisa tão forte!

Após uma semana do ocorrido fui imediatamente vê-los em Lagoa da Volta. Esse processo eu sabia que seria doloroso, mas preciso. Eu sentia a necessidade de estar com eles, de abraçá-los, de dizer EU TÔ AQUI! TO COM VOCÊS E QUERO POR A OUVI-LOS E A APOIA-LOS EM TUDO!
PAULA E ERINALDO, QUE DEUS OS ABENÇÕE E A CADA DIA DÊ FORÇA E ENERGIA PARA REVIGORAR AS FORÇAS DE VOCÊS, MESMO SABENDO QUE A SAUDADE CONTINUARÁ. AMO VOCÊS.

 SANADIA.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

PALAVRAS DE DUAS AMIGAS MUITO ESPECIAIS


Diana e Terlúcia são duas amigas muito especiais, Diana mora em Natal - RN e Terlúcia em João Pessoa - PB. Após a morte do nosso Paulo Gustavo já vieram duas vezes nos visitar, passar alguns dias conosco. Estes dias elas passaram todo o final de semana, exclusivamente conosco. E, antes de ir embora ela, Diana nos deixou estas palavras, e Terlúcia nos enviou via face, e nós gostaríamos de dividir com vocês, leitores, e de agradecê-las pela sensibilidade e atenção que nos dedicam. Eis as mensagens:

Erinaldo e Paula

"Tem uma coisa que eu sinto e quando, mesmo distante ou perto, aproxima deste momento da vida de vocês. Não sei procurar palavras, orações ou outra coisa para justificar este momento, mas acredito no jeito de ser de vocês, uma força de vida chamada amor. desculpem-me por expressar assim este momento, de ser uma presença distante e perto, de não ter palavra certa no momento solitário de vocês, mas vejo uma energia desta força amor em duas pessoas que olham, escutam, lutam e que sentem raiva e procuram explicações. Acredito no amor que neste momento é força entre vocês, nós e tudo que se faz presença na ausência, dor e lembranças. Não sei se o amor é tempo, vento, água ou luz, crença e sim, a energia de vida vinda de vocês. ela é devagar, lenta, mas produz este instante que não explica, só o amor conduz."

Diana



Para Paula e Erinaldo

Esses dias voltei a Lagoa da Volta, povoado localizado no município de Porto da Folha no sertão sergipano – lugar onde morei e que me acolheu como filha, irmã, amiga...; que criei laços afetivos e ampliei minha família; que conheci pessoas maravilhosas; lugar que me proporcionou ricas experiências... Lugar do reencontro, da alegria, de muitos risos, de caminhadas, de muitas visitas aos/as amigos/as queridos/as...

Mas dessa vez foi diferente, tudo estava diferente... os risos não estavam largos, os encontros menos festivos, as caminhadas com poucos passos, as visitas reduzidas... Lagoa da Volta estava diferente.

Estava diferente por que o motivo que me levou até lá não era agradável, o motivo era a DOR sentida por Paula, Erinaldo e todos os familiares e amigos do lindo, conversador e inteligente PAULO GUSTAVO, que agora não está mais presente de forma física com os seus. Pois Paulo Gustavo agora é uma estrelinha que brilha no céu... foi para lá de modo precoce, de forma brusca pela irresponsabilidade de um caminhoneiro, que bateu na traseira do carro de seus pais e interrompeu sua vida, tirando-o do seio de sua família.

Retornar a Lagoa da Volta mediante essa situação não foi fácil, mas necessário... Paula e Erinaldo, mas que todos os outros que sentem a falta do pequeno Paulo Gustavo, estão com o coração transpassado por uma enorme dor... a dor da saudade, da ausência, da perda, do medo de continuar, da dúvida, do desencanto com a vida...

Fui a Lagoa da Volta para ficar com meus amigos Paula e a Erinaldo e dizer que essa dor que eles sentem eu não sei mensurar, mas que estou em comunhão com eles. Fui por que eu precisava abraçar Paula e Erinaldo e ouvi-los, e chorar junto e silenciar diante desse terrível acontecimento.

Fui com a amiga Diana, por que estivemos, desde muito, presentes em momentos alegres e agradáveis vivenciados e partilhados por Paula e Erinaldo.
Fui por que Paula e Erinaldo precisam sentir que não estão sós, precisam sentir que tem amigos/as, que tem família, que a comunidade está solidária nesse momento.

Fui porque a dor de Paula e Erinaldo é também uma dor coletiva, por que é uma dor causada pela irresponsabilidade de um motorista; pela forma com os carros têm sido usados como armas Brasil a fora fazendo vítimas diariamente e pela impunidade diante de assassinatos ocorridos no trânsito que tem deixado mães, pais, avós, tias, tios, irmãs, irmãos e amigos sofrendo a perda de um ente querido.

O tempo de permanência em Lagoa da Volta foi curto, mas importante para fortalecer a nossa amizade e reafirmar que estamos em comunhão.

Foi difícil chegar em Lagoa da Voltar ver a casa vazia e meus amigos em sofrimento, foi também difícil voltar e deixá-los chorando... Mas quero dizer a Paula e Erinaldo o que já disse em outras ocasiões, que Paulo Gustavo era o reflexo do amor, do cuidado, da atenção e do carinho que recebia de vocês cotidianamente.

Sei que o tempo vai passar e que vocês aprender a conviver com essa perda, mas nunca vão se conformar e nem entender por que isto aconteceu. Porém, o AMOR por PAULO GUSTAVO continuará vivo por que o amor não morre, ele é ETERNO.

Fiquem bem!

A amiga de sempre, Terlúcia

quinta-feira, 16 de maio de 2013



DESABAFO EM MAIS UM DIA DE DOR 


QUINTA-FEIRA, 16 DE MAIO DE 2013
Hoje, desde que acordei, a música da Eric Clapton, “Tears in Heaven”, ou "Lágrimas no Céu" em português, que ele compôs em homenagem ao filho que faleceu aos 4 anos, vítima de uma queda do 53º andar de um prédio, não sai da minha cabeça, penso muito na letra dessa música. Fico pensando em cada trecho dessa música e pensando como ela retrata tão bem a dor e a dúvida que todos os pais tem após a perda de um filho. Quero ser forte, aguentar firme e procurar meu caminho dia e noite (como Eric também procurou e retratou nos trechos de sua música), apesar de ser tão difícil visualizar esse caminho e ser extremamente difícil ser forte e aguentar tanta dor.
A dúvida fica, sim (a música começa com essa dúvida), se vamos nos encontrar de novo, se eles me reconhecerão, saberão meu nome, mas quero acreditar e vou acreditar nisso: que vou reencontrar meus filhinhos um dia, lá no céu, e lá não chorarei mais, porque no céu não existe lágrimas, só alegrias e eles estão lá, felizes e esperando por mim. E Lá seremos felizes para sempre, como em um conto infantil, estaremos todos juntos e não nos separaremos mais, nunca mais.
Hoje também tentei voltar a cuidar da minha casa, mas isso só fez crescer uma raiva enorme dentro de mim. Eu lavei os pratos, mas Paulo Gustavo não estava aqui, para me ajudar e insistir em enxugar as colheres, quando ele não estava assistindo e eu ia lavar os pratos, ele dizia: mamãe eu vou ajudar... eu quero te ajudar. Subia numa cadeira, pegava o pano de prato e eu dava para ele as colheres, tampas ou vasilhas pequenas de plásticos, o que eu sabia que não iria machucá-lo. E lá estava ele se sentido útil e tão capaz, ajudando a sua mãe. Olhei para a cadeira próxima a mesa onde ele ficava e não, ele não estava lá. Continuei lavando aqueles pratos, mas meu coração doía, doía muito. Como suportar tudo isso? Eu sempre gostei de cuidar das minhas coisas, da minha casa, mas agora, tudo se torna insuportável, tudo é tão pesado, tão triste. Quando acho um brinquedo, um lápis de cor espalhado pela casa, suas bolas, meu coração para um pouco e pergunta: cadê ele? Cadê Paulo Gustavo para brincar com seus brinquedos, pintar com seus lápis de cor e chutar as suas bolas, com tanto gostava? E aí ele dói, dói de raiva, de tristeza, de tanta revolta por não entender essa situação tão surreal, tão difícil de ser encarada e aceita.
Algumas pessoas me perguntam se estou bem. Ou até afirmam, ao perguntar, sem me dar chances de responder: Paula tudo bem.? Penso: Como está tudo bem? Meu 2º e único filho morreu, como eu posso está bem? Eu estou péssima, derrotada e me sinto muito mal. Mas o fato de não está enterrada, nem internada num hospício, as fazem pensar que estou bem? Não, não estou bem, não estou enterrada, mas me sinto morta, sem forças para seguir, para voltar a fazer coisas que eu gostava de fazer, pensar no meu trabalho, nada disso importa para mim. Tudo perde o sentido, o valor, a alegria. E como conseguir sorrir, ser feliz, voltar a viver sem meu filho perto de mim? Sem ele me ajudando, eu me orgulhava tanto de ver meu pequenininho, me ajudando a pegar um brinco embaixo do guarda-roupa ou da cama quando caía, pegando uma colher para mim na gaveta do armário, quando eu sentava à mesa e precisava de mais uma, ou até indo no meu guarda- roupa para pegar meu lençol quando estava deitada no sofá e sentia frio (às vezes, ele derrubava todos os outros lençóis que estavam lá e eu tinha que levantar para guardar-los). Mas ficava feliz com sua atitude tão gentil de ajudar a sua mãe e isso o deixava tão contente, quando eu o agradecia e dizia: que bom meu filhinho, já me ajuda, obrigada! Olhar esse lençol hoje me emociona tanto, ele deitava no sofá comigo, mas era muito calorento, e não queria se enrolar, mas quando eu falava que estava com frio, ele perguntava se eu queria o lençol e ia buscar, outras vezes eu que pedia para ele pegar. E ele ia, já sabia qual era o meu e parecia que queria me confortar com aquele lençol, fazer passar meu frio. E quando ele sentia frio ou queria um lençol para brincar e enrolar seus filhinhos (os bonequinhos Patati – Patatá) era uma briga, ele só queria o meu lençol. E eu dizia não pode, pegue outro, e ele respondia que queria aquele, era do meu que ele gostava, às vezes eu até me irritava, sem querer liberar o  meu lençol e Erinaldo dizia deixa, ele não vai sujar, e se sujar pega outro. Então eu liberava. Olho hoje para esse lençol e não consigo me enrolar com ele. Que falta me faz Paulo Gustavo aqui querendo brincar com o meu lençol e até sujá-lo se ele quisesse. Eu não o tenho mais, por isso até o lençol que eu fazia tanta questão de me enrolar, já não é mais o mesmo. Eu não sou mais a mesma, minha casa não é mais a mesma, nem meu lençol é mais o mesmo (eu não gosto mais dele, nem sei que sentimento eu tenho), só não o quero mais e nem deixo outra pessoa se enrolar com ele, porque ele era meu e de Paulo Gustavo.
Meus dias não estão sendo fáceis, desde a lembrança do lençol que ele gostava, a todos os todos os cantos da nossa casa e projetos pensados juntos: Comemorar nossos aniversários, ter uma menininha para cuidarmos juntos. E tantas outras coisas que ele dizia “é para nós três”, se referindo a ele, eu e seu pai. Hoje não existe mais “nós três”,  somos dois: eu e Erinaldo, para enfrentarmos tamanha dor e ausência do nosso bebezinho grande, como ele gostava que o chamasse, pois quando o chamava de “meu bebezinho”, ele argumentava: “não sou bebezinho não, mãe, já sou grande”. Eu continuava: ok, você já é grande, mas é meu bebezinho, então é meu bebezinho grande. E assim ele aceitava. Dizem-me para não brigar com Deus, mas ainda brigo muito com ELE, por não entender, nem aceitar que nós tinhamos que continuar nossa missão sem nosso bebezinho lindo e amável: PAULO GUSTAVO.

quarta-feira, 15 de maio de 2013



DA ALEGRIA PELO NASCIMENTO DOS NOSSOS FILHOS AOS DOIS PIORES DIAS DAS NOSSAS VIDAS

Sou mãe de dois anjinhos, mas ainda não me sinto bem nessa situação. Na verdade ainda não aceito que meus filhos tinham que me deixar tão cedo, sei que posso estar sendo covarde, como li em um blog uma mãe de anjo falando, mas não consigo ser forte, não ser covarde. Sei que não é fácil para nenhuma mãe, mas vi em alguns blogs, alguns comentários que tem me ajudado, por isso tem me ajudado me corresponder com essas mães, tenho certeza que isso vai me ajudar muito a suportar esse horrror que se transformou a minha vida. Vou utlilizar esse blog para contar um pouco da minha história com meus anjinhos, para reinvidicar justiça pelo meu anjinho Paulo Gustavo e para tentar amenizar um pouco o meu sofrer, a medida que estou escrevendo e publicando algo .
 Meu nome é Maria Paula, moro em Porto da Folha-SE - Brasil, casei em dez/2005, engravidei com menos de um mês de casada, no início fiquei um pouco assustada, tinha muito medo de ter filhos (pensando na hora do parto), depois o amor era tão grande por aquela criança que habitava dentro de mim, que eu costumava dizer que o amor vencia o medo, eu não tinha mais medo da hora do parto, eu queria tanto sentir aquela criança nos braços, que eu sabia que ia dar tudo certo, eu ia conseguir. No dia do parto (02/10/2006), cheguei cedo à maternidade, mais o médico que me acompanhou no pré-natal não apareceu, mesmo sabendo que eu estava lá, esperando-o. A médica plantonista dizia que eu tinha que esperar por ele, e só à tarde quando perceberam que eu não aguentava mais, ligaram para o médico e ele disse para a plantonista me atender, meu bebê já tinha feito cocô na minha barriga e o parto teve que ser uma cesariana. Mas que bom, ele nasceu (Paulo Gabriel nasceu) que alegria, teve que ir para UTIN, mas me falaram que estava tudo bem, ele só ia ficar em observação, para terem certeza que ele não tinha engolido nenhum liquído, que pudesse lhe fazer mal. Fiquei tranquila, como em todo o pré-natal sempre ouvi do médico que estava tudo bem, que era uma criança saudável,não tinha por que temer. Mas no outro dia ao visitá-lo na UTIN, já fui ouvindo da médica: prepare-se, ele está com um problema muito sério e vai morrer. Não acreditei no que ouvia, como? Ela me explicou que durante a noite ele tinha tido uma crise, e descobriram que ele tinha uma cardiopatia congênita. Indaguei pela cirurgia, ela falou que podia ser feita, mas ele era muito pequeno, seria difícil resistir. Mas não desistimos, ou arriscava fazer a cirurgia e ter uma chance dele viver ou esperava ele morrer a qualquer momento. Com 9 dias de nascido ele foi submetido à cirurgia e não resistiu. Foi o primeiro pior dia das nossas vidas (11/10/2006), um dia antes do dia das crianças, e seu sepultamento justamente no dia das crianças. Foi terrível, queria morrer, meu esposo também sofria muito, mas tentava se manter forte por mim, fiz acompanhamento psicológico, e depois de muita luta conseguimos seguir em frente. O nascimento do nosso 2º filho foi fundamental para conseguirmos.
 Nasceu Paulo Gustavo em 17/08/2008, nasceu de 8 meses, quando a bolsa estourou foi um susto, pois já estava tudo programado para ser cesariana no mês seguinte, mas graças a Deus deu tudo certo, foi  parto cesário novamente, mas ele estava com mais de 3 quilos e nem precisou ficar na UTIN. E aí nossa alegria voltou, não completamente pela ausência de Paulo Gabriel, mais conseguíamos sorrir, pensar no futuro, pensar no melhor para Paulo Gustavo, tudo que fazíamos era em função dele, ele era tudo para nós. Era um menino esperto, amoroso (que do nada chegava e dizia: mamãe linda eu te amo, ou papai. O amor dele por nós era igual, apesar de ser muito apegado ao pai e às vezes eu dizer que ele gostava mais do pai, mas ele dizia que não, e eu acredito). Ele estava com 4 anos e 6 meses. Moramos no interior de Porto da Folha, mas temos residência também em Aracaju, e viajamos muito de um lugar ao outro, mas sempre pra ir a médico, levar mãe, irmã, sogra e até nós mesmos. Paulo Gustavo sempre ia conosco e gostava, porque nos intervalos, levávamos ele à praia ( que ele adorava), no parque, shopping. Se ele pudesse morava em Aracaju. E aí veio o 2º pior dia das nossas vidas, no dia 04/03/2013, voltando de Aracaju para Porto da Folha, no município de N.Srª da Glória, já tão próximo de casa, um caminhoneiro desgraçado, jogou seu caminhão na traseira do nosso carro, íamos 5 no carro, eu, meu esposo,minha mãe, minha irmã e Paulo Gustavo, todos ficamos bem: eu e meu esposo, os menos feridos por estarmos na frente, minha mãe e minha irmã, mais, porque estavam atrás com ele, mas ele não teve chances, ainda tiramos ele da caderinha, sangrando pela boca, nariz. Eu corri para a pista, pedindo socorro com ele nos meus braços, vi resistência de um homem em ir comigo para o hospital, dizia que não sabia onde ficava, isso me dar ódio até hoje, e acho que nunca vai passar, até que parou um casal (já de meia idade, que nem lembro da fisionomia) e me levaram para o hospital mais próximo, eu pedia tanto a Deus para não levar meu filho e dizia: SENHOR, eu já te dei Paulo Gabriel, deixe Paulo Gustavo comigo. Nunca pensei em passar por um terror tão grande na minha vida, eu estava no inferno. Chegando ao hospital percebi que meu filho estava morrendo, entrei correndo no hospital, pedindo um  médico, ainda pegaram ele dos meus braços, foi uma correria, vi fazendo massagens nele, mas me tiraram da sala, estava tão desesperada, doida, corria pelo hospital, não queria ouvir o pior, mas não demorou muito, quando meu esposo chegou, que tinha ficado socorrendo minha mãe e irmã. vi alguém chamando-o pra conversar e percebi que o pior tinha acontecido. Queria morrer, pedi para me matarem, eu não suportaria, de novo não. Eu não queria viver pra sentir de novo essa dor. E agora pior, numa intensidade maior ainda porque o tempo de convivência foi maior, são mais lembranças. Com Paulo Gabriel, eu sofria imaginando como ele estaria, de que ia gostar. Paulo Gustavo eu sei, o que ele gostava, o que não gostava, como dançava, cantava, nós presenciamos a intensidade do seu amor. E agora estou (estamos) pior, porque dessa vez vejo meu esposo pior, arrasado, derrotado ( e issso) acaba mais comigo, fico rogando a Deus com o que me resta de fé (que não sei se tenho), porque não entendo, não aceito que ELE tenha permitido que nós passássemos por isso de novo, mas ainda peço a ELE que não nos deixe  desistir, cair. Nós cuidavámos tanto do nosso filhinho, protegíamos ele de tudo, acho que pela experiência negativa que tivemos e o medo de perdé-lo também. Estavámos conseguindo, esse ano tínhamos prometido a ele dar-lhe um (a) irmãozinho (a), ele queria uma irmãzinha, porque meu irmão teve uma menininha e ele gostava muito da priminha. Estavámos com tantos planos, esse ano ia ser um dos melhores das nossas vidas e aí de repente a inresponsabilidade de um caminhoneiro acaba com tudo, com nossa vida. Tem horas que parece que não vamos aguentar, mas a gente quer justiça e digo ao meu esposo, “precisamos viver pra lutar por justiça”. Dias acordo com esse pensamento, outros acordo acabada, sem forças pra seguir (ontem, por exemplo, a dia estava frio, chuvoso e parece que tudo piora, passei o dia mal, dormi mal e estou mal até agora), lembro-me da alegria do meu filhinho, adorava Patati-Patatá, cantava todas as suas músicas, era um menino tão alegre, tão feliz, gostava de viver e aproveitou tudo na maior intensidade, sofro tanto, não consigo compreender o porquê disso tudo, desse sofrimento, acho que não merecíamos, sei que é um pensamento egoísta, mas penso assim, estou tão revoltada, com tanta magoa, raiva, me sinto impotente, não consegui ajudar meu filho, essa incapacidade também acaba comigo, eu queria tanto ter ajudado, não consegui! Daria minha vida por ele, mas a gente não tem esse poder de escolha e nem pode fazer o tempo voltar, procurar outro caminho e nunca ter passado naquela estrada, não ter ficado na frente daquele caminhão, é terrível, me vejo dentro do inferno, como foi no momento do acidente, os dias passam mais nada muda. Li uma mãe falando que depois de um mês, dois, parece que as outras pessoas nem lembram mais, e se sentia só na sua dor, também acho isso, mas para nós pais, nada muda o tempo para e só fica a dor, que não diminui em nenhum momento se quer. Por isso busco falar com pessoas, que passaram por experiências parecidas,(ou que não passaram, mas que tenham algo a me falar,que me conforte e me ajude a passar por esse momento tão difícil), quero ouvir-las e pedir que me ajudem a ter forças, eu sei que preciso seguir pelo meu filho, que morreu de forma tão violenta e não merecia isso, aquele homem não tinha esse direito de destruir nossas vidas, nossos sonhos, e ele tem que pagar por isso, se desistir, ele vai continuar fazendo isso com outras famílias. Agora, imagine nossa aflição, tentando suportar essa dor horrível, que sabemos que nunca vai nos deixar e ter que correr atrás de advogados, testemunhas (que é o pior), as pessoas tem medo de falar, não querem se envolver com justiça, é um tormento, isso nos mata aos poucos. Estamos numa luta pra sobreviver e esperamos contar com o apoio de todos.

 Um abraço


Paula e Erinaldo

sexta-feira, 10 de maio de 2013

MEU LINDO ANJO PAULO GUSTAVO

Como dói a saudade dos seus abraços, de seus beijinhos, de te ouvir dizer "Papai, sabia que eu te amo?" Você foi tão cedo para o outro lado da vida que nem tivemos tempo de nos despedirmos. Mas sei que você sabe, que eu e sua mãe te amamos desde o momento em que foi concebido e continuaremos te amando, mesmo sem tê-lo aqui fisicamente, ao nosso lado. Sabemos que estás com Deus e com seu irmãozinho Paulo Gabriel, onde um dia, esperamos nos encontrarmos todos. Fica com Deus! Papai e mamãe te amam.