DA ALEGRIA
PELO NASCIMENTO DOS NOSSOS FILHOS AOS DOIS PIORES DIAS DAS NOSSAS VIDAS
Sou mãe de dois
anjinhos, mas ainda não me sinto bem nessa situação. Na verdade ainda não
aceito que meus filhos tinham que me deixar tão cedo, sei que posso estar sendo
covarde, como li em um blog uma mãe de anjo falando, mas não consigo ser forte,
não ser covarde. Sei que não é fácil para nenhuma mãe, mas vi em alguns blogs,
alguns comentários que tem me ajudado, por isso tem me ajudado me corresponder
com essas mães, tenho certeza que isso vai me ajudar muito a suportar esse
horrror que se transformou a minha vida. Vou utlilizar esse blog para contar um
pouco da minha história com meus anjinhos, para reinvidicar justiça pelo meu
anjinho Paulo Gustavo e para tentar amenizar um pouco o meu sofrer, a medida
que estou escrevendo e publicando algo .
Meu nome é Maria Paula, moro em Porto da
Folha-SE - Brasil, casei em dez/2005, engravidei com menos de um mês de casada,
no início fiquei um pouco assustada, tinha muito medo de ter filhos (pensando
na hora do parto), depois o amor era tão grande por aquela criança que habitava
dentro de mim, que eu costumava dizer que o amor vencia o medo, eu não tinha
mais medo da hora do parto, eu queria tanto sentir aquela criança nos braços,
que eu sabia que ia dar tudo certo, eu ia conseguir. No dia do parto
(02/10/2006), cheguei cedo à maternidade, mais o médico que me acompanhou no
pré-natal não apareceu, mesmo sabendo que eu estava lá, esperando-o. A médica
plantonista dizia que eu tinha que esperar por ele, e só à tarde quando
perceberam que eu não aguentava mais, ligaram para o médico e ele disse para a
plantonista me atender, meu bebê já tinha feito cocô na minha barriga e o parto
teve que ser uma cesariana. Mas que bom, ele nasceu (Paulo Gabriel nasceu) que
alegria, teve que ir para UTIN, mas me falaram que estava tudo bem, ele só ia
ficar em observação, para terem certeza que ele não tinha engolido nenhum
liquído, que pudesse lhe fazer mal. Fiquei tranquila, como em todo o pré-natal
sempre ouvi do médico que estava tudo bem, que era uma criança saudável,não
tinha por que temer. Mas no outro dia ao visitá-lo na UTIN, já fui ouvindo da
médica: prepare-se, ele está com um problema muito sério e vai morrer. Não
acreditei no que ouvia, como? Ela me explicou que durante a noite ele tinha
tido uma crise, e descobriram que ele tinha uma cardiopatia congênita. Indaguei
pela cirurgia, ela falou que podia ser feita, mas ele era muito pequeno, seria
difícil resistir. Mas não desistimos, ou arriscava fazer a cirurgia e ter uma
chance dele viver ou esperava ele morrer a qualquer momento. Com 9 dias de
nascido ele foi submetido à cirurgia e não resistiu. Foi o primeiro pior dia
das nossas vidas (11/10/2006), um dia antes do dia das crianças, e seu
sepultamento justamente no dia das crianças. Foi terrível, queria morrer, meu
esposo também sofria muito, mas tentava se manter forte por mim, fiz
acompanhamento psicológico, e depois de muita luta conseguimos seguir em
frente. O nascimento do nosso 2º filho foi fundamental para conseguirmos.
Nasceu Paulo Gustavo em 17/08/2008, nasceu de
8 meses, quando a bolsa estourou foi um susto, pois já estava tudo programado
para ser cesariana no mês seguinte, mas graças a Deus deu tudo certo, foi parto cesário novamente, mas ele estava com
mais de 3 quilos e nem precisou ficar na UTIN. E aí nossa alegria voltou, não
completamente pela ausência de Paulo Gabriel, mais conseguíamos sorrir, pensar
no futuro, pensar no melhor para Paulo Gustavo, tudo que fazíamos era em função
dele, ele era tudo para nós. Era um menino esperto, amoroso (que do nada
chegava e dizia: mamãe linda eu te amo, ou papai. O amor dele por nós era
igual, apesar de ser muito apegado ao pai e às vezes eu dizer que ele gostava
mais do pai, mas ele dizia que não, e eu acredito). Ele estava com 4 anos e 6
meses. Moramos no interior de Porto da Folha, mas temos residência também em
Aracaju, e viajamos muito de um lugar ao outro, mas sempre pra ir a médico,
levar mãe, irmã, sogra e até nós mesmos. Paulo Gustavo sempre ia conosco e
gostava, porque nos intervalos, levávamos ele à praia ( que ele adorava), no
parque, shopping. Se ele pudesse morava em Aracaju. E aí veio o 2º pior dia das
nossas vidas, no dia 04/03/2013, voltando de Aracaju para Porto da Folha, no
município de N.Srª da Glória, já tão próximo de casa, um caminhoneiro
desgraçado, jogou seu caminhão na traseira do nosso carro, íamos 5 no carro,
eu, meu esposo,minha mãe, minha irmã e Paulo Gustavo, todos ficamos bem: eu e
meu esposo, os menos feridos por estarmos na frente, minha mãe e minha irmã,
mais, porque estavam atrás com ele, mas ele não teve chances, ainda tiramos ele
da caderinha, sangrando pela boca, nariz. Eu corri para a pista, pedindo
socorro com ele nos meus braços, vi resistência de um homem em ir comigo para o
hospital, dizia que não sabia onde ficava, isso me dar ódio até hoje, e acho
que nunca vai passar, até que parou um casal (já de meia idade, que nem lembro
da fisionomia) e me levaram para o hospital mais próximo, eu pedia tanto a Deus
para não levar meu filho e dizia: SENHOR, eu já te dei Paulo Gabriel, deixe
Paulo Gustavo comigo. Nunca pensei em passar por um terror tão grande na minha
vida, eu estava no inferno. Chegando ao hospital percebi que meu filho estava
morrendo, entrei correndo no hospital, pedindo um médico, ainda pegaram ele dos meus braços,
foi uma correria, vi fazendo massagens nele, mas me tiraram da sala, estava tão
desesperada, doida, corria pelo hospital, não queria ouvir o pior, mas não
demorou muito, quando meu esposo chegou, que tinha ficado socorrendo minha mãe
e irmã. vi alguém chamando-o pra conversar e percebi que o pior tinha
acontecido. Queria morrer, pedi para me matarem, eu não suportaria, de novo
não. Eu não queria viver pra sentir de novo essa dor. E agora pior, numa
intensidade maior ainda porque o tempo de convivência foi maior, são mais lembranças.
Com Paulo Gabriel, eu sofria imaginando como ele estaria, de que ia gostar.
Paulo Gustavo eu sei, o que ele gostava, o que não gostava, como dançava,
cantava, nós presenciamos a intensidade do seu amor. E agora estou (estamos)
pior, porque dessa vez vejo meu esposo pior, arrasado, derrotado ( e issso)
acaba mais comigo, fico rogando a Deus com o que me resta de fé (que não sei se
tenho), porque não entendo, não aceito que ELE tenha permitido que nós
passássemos por isso de novo, mas ainda peço a ELE que não nos deixe desistir, cair. Nós cuidavámos tanto do nosso
filhinho, protegíamos ele de tudo, acho que pela experiência negativa que
tivemos e o medo de perdé-lo também. Estavámos conseguindo, esse ano tínhamos
prometido a ele dar-lhe um (a) irmãozinho (a), ele queria uma irmãzinha, porque
meu irmão teve uma menininha e ele gostava muito da priminha. Estavámos com
tantos planos, esse ano ia ser um dos melhores das nossas vidas e aí de repente
a inresponsabilidade de um caminhoneiro acaba com tudo, com nossa vida. Tem
horas que parece que não vamos aguentar, mas a gente quer justiça e digo ao meu
esposo, “precisamos viver pra lutar por justiça”. Dias acordo com esse
pensamento, outros acordo acabada, sem forças pra seguir (ontem, por exemplo, a
dia estava frio, chuvoso e parece que tudo piora, passei o dia mal, dormi mal e
estou mal até agora), lembro-me da alegria do meu filhinho, adorava
Patati-Patatá, cantava todas as suas músicas, era um menino tão alegre, tão
feliz, gostava de viver e aproveitou tudo na maior intensidade, sofro tanto,
não consigo compreender o porquê disso tudo, desse sofrimento, acho que não
merecíamos, sei que é um pensamento egoísta, mas penso assim, estou tão
revoltada, com tanta magoa, raiva, me sinto impotente, não consegui ajudar meu
filho, essa incapacidade também acaba comigo, eu queria tanto ter ajudado, não
consegui! Daria minha vida por ele, mas a gente não tem esse poder de escolha e
nem pode fazer o tempo voltar, procurar outro caminho e nunca ter passado
naquela estrada, não ter ficado na frente daquele caminhão, é terrível, me vejo
dentro do inferno, como foi no momento do acidente, os dias passam mais nada
muda. Li uma mãe falando que depois de um mês, dois, parece que as outras
pessoas nem lembram mais, e se sentia só na sua dor, também acho isso, mas para
nós pais, nada muda o tempo para e só fica a dor, que não diminui em nenhum
momento se quer. Por isso busco falar com pessoas, que passaram por
experiências parecidas,(ou que não passaram, mas que tenham algo a me falar,que
me conforte e me ajude a passar por esse momento tão difícil), quero ouvir-las
e pedir que me ajudem a ter forças, eu sei que preciso seguir pelo meu filho,
que morreu de forma tão violenta e não merecia isso, aquele homem não tinha
esse direito de destruir nossas vidas, nossos sonhos, e ele tem que pagar por
isso, se desistir, ele vai continuar fazendo isso com outras famílias. Agora,
imagine nossa aflição, tentando suportar essa dor horrível, que sabemos que
nunca vai nos deixar e ter que correr atrás de advogados, testemunhas (que é o
pior), as pessoas tem medo de falar, não querem se envolver com justiça, é um
tormento, isso nos mata aos poucos. Estamos numa luta pra sobreviver e
esperamos contar com o apoio de todos.
Um abraço
Paula e Erinaldo